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terça-feira, 12 de junho de 2012

A proliferação do W no nome de crianças e jovens futebolísticos!


A revoada de dáblios no futebol


Esta inflação de nomes dabliados no futebol não é apenas uma piada. É também uma pista do que pensava o brasileiro uns vinte e cinco anos atrás. Ele queria que seus filhos fossem mais ricos, mais poderosos, mais internacionais. Queria que fossem vencedores no mundo.

A letra “W” voltou recentemente ao alfabeto brasileiro. Mas nunca deixou de estar presente nos campos de futebol. 

Desde Wendell, goleiro da década de 70 que passou por Santa Cruz, Botafogo, Fluminense e seleção brasileira, sempre houve alguns sujeitos com nomes começados com a letra “W”. Só que nunca foram tantos como agora.

Fiquei até me perguntando se seria possível fazer um time apenas com jogadores de nomes dabliosos que atuam na Série A do Brasileiro.

Mal comecei a pesquisa e achei o goleiro perfeito: Wewerton, do Atlético Goianiense, com dois dáblios.

Para as vagas nas laterais temos três concorrentes: Welder (Corinthians), Welington (Flamengo) e Wallace (Fluminense).

Zagueiros? Podemos fazer uma dupla de Wellingtons, pegando o do Flamengo e o do Fluminense, ou uma dupla de nomes curiosos, formada por Werley (Grêmio) e Wescley (Ponte Preta).

Os volantes seriam Wiliam Magrão (Cruzeiro) e Wesley (Palmeiras). E seus reservas, Wellington (São Paulo) e Welton (Sport).

Os dois meias poderiam William Farias (Coritiba) e Wagner (Fluminense). 

Por fim, poderíamos nos dar ao luxo de escolher um ataque wellingtônico, com Wellington Paulista (Cruzeiro) e Wellington Nem (Fluminense) ou uma linha de frente williâmica [temos um Willian (com “n”) no Atlético Goianiense, um William (com “m”) no Corinthians, um Williams (com “s”) no Sport e William José, do São Paulo]. Caso você não goste de nomes repetidos, pode ficar com Walter e Wallyson, ambos do Cruzeiro.

O técnico deste time, obviamente, seria Wanderley Luxemburgo.

Esta revoada de dáblios não é apenas divertida. Ela também pode indicar alguma coisa. Pode indicar um certo desejo de ser diferente, de ser globalizado, de subir na vida.

O dáblio é uma letra ligada às línguas alemã e inglesa. A Alemanha é o país mais rico da Europa e os EUA são o país mais poderoso do mundo. Ou seja, é uma letra ligada ao poder, à riqueza, e muitos pais devem acreditar que nomes iniciados pelo internacional “W” podem ajudar seus filhos a subirem na vida. 

Outra explicação é que o dáblio é uma letra diferente, esquisita, e assim, colocando-a num nome, seu proprietário fica mais mais individualizado. Provavelmente foi por isso que Vanderlei Luxemburgo esqueceu sua certidão de nascimento, colocando um “W” e um “Y” no lugar de reles ves e is. 

Esta inflação de nomes dabliados no futebol não é apenas uma piada. É também uma pista do que pensava o brasileiro uns vinte e cinco anos atrás. Ele queria que seus filhos fossem mais ricos, mais poderosos, mais internacionais. Queria que fossem vencedores no mundo. Ou “winners in the world”, como se diz na língua de Shakespeare (que por sinal chamava-se William).

Mas hoje os jogadores não estão mais tão ansiosos por jogar em países onde o “W” é comum. Aliás, alguns dáblios estão até voltando, como o habilidoso Wagner, que começou no América mineiro, passou por Arábia, Rússia e Turquia, e hoje está no Fluminense. 

Talvez num breve futuro acreditemos mais no Brasil e tenhamos Uilians e Uelintons desfilando pelos gramados nacionais. Talvez até uns Ubirajaras.

José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.

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