Páginas

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Governo SP desiste de regra para contratar docente

SP desiste de regra para contratar docente
Folha de São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2010


Com falta de professores, Estado abre possibilidade de admitir temporário que não fez prova de conhecimento Exame anual foi criado no ano passado para melhorar a seleção de professores para a rede de ensino paulista


FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

O governo de SP autorizou a contratação de professores que não tenham prestado um exame de seleção. Criado em 2009, o exame, segundo sempre pregou o próprio governo, tem como objetivo melhorar a escolha de docentes para a rede.
A resolução já está em vigor. A secretaria diz que a norma, publicada ontem no "Diário Oficial", é só uma garantia caso faltem professores temporários (não concursados) . Primeiro, são chamados os concursados e depois, os temporários que passaram pela avaliação.

A norma prevê ainda que formados em pedagogia poderão dar aulas, de forma emergencial, de matérias específicas -como física, química e matemática.
Não foram divulgados números sobre o deficit de docentes nem sobre o de alunos que estão sem aulas por falta de professor. A secretaria informou apenas que há carência na área de exatas.

Os sindicatos do setor afirmam que a falta de docentes é generalizada. O próprio governador Alberto Goldman (PSDB) reconheceu anteontem que há deficit.
"A Secretaria da Educação já constatou e está fazendo todo o esforço para que sejam formados professores na área de física. Parece que ninguém quer ser professor de física, não sei por quê."

200 DIAS FORA

Para os sindicatos, o governo enfrenta dificuldades para contratar por ter determinado que os temporários não podem dar aulas por anos consecutivos.
Segundo lei aprovada em 2009, eles precisam ficar 200 dias fora da rede após um ano de trabalho. A ideia do Executivo é evitar que os temporários se transformem em permanentes, sem ter prestado concurso.

Sindicalistas dizem que o propósito é evitar a caracterização de vínculo empregatício, que elevaria os gastos. Também não houve tempo de chamar os 10 mil aprovados em concurso, aplicado no início do ano, que poderiam substituir parte dos cerca de 80 mil temporários. Os não concursados representam cerca de 40% de todo o corpo docente da rede.

Em nota, a secretaria negou que a "quarentena" para os temporários tenham prejudicado a distribuição de aulas -mas não deu mais detalhes sobre o assunto.

BANCO DE CANDIDATOS

A pasta afirmou ainda que a resolução apenas cria um banco de candidatos, que só serão chamados em caso de emergência.
Disse ainda que "a norma só foi publicada porque este é um ano eleitoral, quando não poderá ser feito novo concurso de admissão ou nova seleção".
A Secretaria da Educação enfrenta dificuldades em preencher os postos nas escolas desde o início do ano.

Após a aplicação da prova dos temporários, a pasta verificou que o volume de aprovados seria insuficiente e permitiu que reprovados também fossem chamados. Eles foram classificados segundo a nota do exame.
Cerca de 40% dos professores não atingiram o desempenho mínimo necessário (metade das 80 questões).

"Agora, poderá dar aula até quem nem fez o concurso. Liberou geral", disse o presidente da Udemo (sindicato dos diretores), Luiz Gonzaga Pinto. "Já é quase meio do ano e várias escolas estão sem todos os professores."
"Primeiro o governo avalia e exclui. Aí, vê que falta professor. Não há organização", diz a presidente da Apeoesp (sindicato dos docentes), Maria Izabel Noronha. Segundo ela, os maiores deficit são em química, biologia e física.

Colaborou FELIPE LUCHETE



ENTREVISTA

Faltam ações estruturais, diz pedagoga
DE SÃO PAULO
Para a coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Maria Márcia Malavazi, a iniciativa divulgada mostra que faltam medidas estruturais para melhorar o magistério.
(FT)



FOLHA - A medida prejudica a qualidade de ensino?Maria Márcia Malavazi - Primeiro, você deixa que a pessoa se forme em cursos de quinta categoria. Depois, faz um exame e fala que aquele professor é inadequado, sem ter dado nenhum apoio a ele.
Quando vê que faltarão professores, chama reprovados e, depois, até quem não fez o exame. Em todo processo, se reafirma a má formação dos professores, sem tomar medidas estruturais. Fora o desprestígio que você põe na categoria.
Também serão chamados profissionais para dar aula fora de sua área. Você já viu farmacêutico fazer cirurgia? No final, os prejudicados são as crianças, que não recebem ensino de qualidade, e a sociedade, que precisa de boa formação.

O que deveria ser feito?
Melhorar os cursos de formação de professores, até fechando os ruins. E no curto prazo, dar bons cursos aos que estão na ativa e aos que ingressam. Nada disso tem sido feito.



Medida é para emergências, diz secretário

DE SÃO PAULO

A Secretaria da Educação afirmou, em nota, que a resolução apenas garante um banco de candidatos, "caso haja falta de professores em alguma disciplina ou localidade".
"Eles só serão chamados em caso emergência. Estes professores só poderão ingressar depois que os classificados pela prova para os temporários, realizada em dezembro do ano passado, forem convocados", disse.
Segundo a pasta, a medida "só foi publicada porque este é um ano eleitoral, quando não poderá ser feito novo concurso de admissão ou nova seleção".
A secretaria negou que a "quarentena" para os temporários tenha prejudicado a distribuição de aulas -mas não deu mais detalhes sobre o assunto.
Sobre o deficit de docentes na rede de ensino, afirmou que as carências são "pontuais, que muitas vezes são solucionadas com professor eventual".
Ainda segundo a pasta, os formados em pedagogia só darão aula de matérias específicas de forma "emergencial" e por pouco tempo, até que um profissional com licenciatura assuma a classe.
Nenhum representante da secretaria concedeu entrevista. Em janeiro, quando anunciou que professores reprovados poderiam dar aulas, o secretário estadual da Educação, Paulo Renato Souza, afirmou: "A nossa prioridade é garantir aulas aos alunos".
À época, o secretário classificou como "inovação" classificar docentes com base em seus conhecimentos. (FT

Nenhum comentário:

Postar um comentário