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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O preço sujo do dinheiro

O preço sujo do dinheiro

O Comitê de Política Monetária decidiu manter a taxa de juros em 10,75%. A decisão foi tomada por quem nunca recebeu um voto em urna. Há 14 anos é assim.

Juros nada mais são que o preço do dinheiro. Parece estranho, e é. Aristóteles, por exemplo, achava moralmente condenável produzir algo para ser trocado no mercado. A principal função do trabalho deveria ser a produção de bens de uso e não de troca.

Dinheiro é um bem que só tem valor de troca. Viver de sua venda cheira a parasitismo. Na Bíblia há várias passagens em que a usura é condenada. Juro em espanhol é “ganancia”. Em inglês, “interest”. Nada simpático.

Vivemos no capitalismo, em que a troca é o centro da lógica social. Mesmo assim, agiotagem é considerada crime. A não ser para aqueles estabelecimentos cujas luxuosas sedes ficam, por exemplo, na Av. Paulista.

O que nos traz de volta à Selic. A taxa de juros praticada no Brasil é a maior do mundo. Grandes investidores compram dinheiro lá fora por quase zero e aplicam no mercado brasileiro para lucrar cerca de 10 vezes mais. Sem criar um único posto de trabalho.

O principal produto negociado são papéis da dívida pública brasileira. São mais de R$ 2 trilhões parasitando os cofres públicos. Retirando recursos dos orçamentos da Saúde, Educação, Previdência etc. Aumentando a desigualdade social.

Por outro lado, os juros ao consumidor estão em cerca de 500% anuais. Enquanto isso, o BNDES tem escolhido alguns ramos econômicos para emprestar bilhões a juros pela metade da taxa Selic.

Capitalismo é assim. Cheira mal. No Brasil, fede muito.

Leia também: Dívida pública: pirata e cara!

Sérgio Domingues
http://pilulas-diarias.blogspot.com

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Velhice e juventude na França em greve

Velhice e juventude na França em greve

A França está de pernas para o ar. Trabalhadores de várias categorias paralisam o país contra a reforma da previdência proposta por Sarkozy. Principalmente, contra o aumento da idade mínima para aposentadoria de 60 para 62 anos.

Mas o protesto envolve quem não faz greve porque não estão empregado. São milhares de jovens que desafiam a polícia em vários lugares do país. Usam paus e pedras. Incendiaram uma escola, destruíram automóveis, quebraram lojas e equipamentos urbanos.

As autoridades dizem que se trata de desordeiros. Ainda que fosse verdade, isso não responde a uma questão: por que jovens se envolvem em algo que afeta diretamente apenas os mais velhos, com empregos regulares?

Talvez uma parte da resposta esteja na marginalidade que atinge as duas pontas da vida humana sob o capitalismo. A juventude e a velhice se tornam cada vez mais descartáveis.

Reformas da previdência vêm sendo feitas há décadas em várias partes do mundo. A desculpa é uma só. As pessoas estão vivendo mais. Aposentam-se no auge da vida produtiva. Como se vida produtiva e vida humana fossem uma só. Como se a enorme maioria dos trabalhadores não estivesse louca para se livrar de suas ocupações cansativas, doentias, chatas e mal pagas.

Enquanto isso, os jovens atolam suas vidas num limbo. Ficam entre uma infância mal acabada e a vida adulta adiada pela falta de uma ocupação profissional. Anseiam por entrar no mundo do trabalho, do qual lutarão para sair pela estreita porta da aposentadoria.

Somos cada vez mais parecidos com animais criados para o abate. Só importa o período em que damos bons cortes. Mas, quando a revolta explode, boi é uma coisa, estouro da boiada é outra.

Leia também: Greve Geral na França

Sérgio Domingues
http://pilulas-diarias.blogspot.com

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O “Dia do Professor” em meio à desvalorização do magistério

Hoje, dia 15 de outubro, é o “Dia do Professor”. E em termos bastante
práticos e honestos deveria ser também denominado como o “Dia da Educação”.
Trata-se de um fato inquestionável: não há educação de qualidade sem bons e
motivados educadoras e educadores nas salas de aula, nas escolas e em todo o
sistema de ensino.
Contudo, no tocante a essa certeza, o Estado brasileiro porta-se como um organismo esquizofrênico e contraditório. Embora a sociedade entenda a valorização da carreira do magistério como uma prioridade urgente, a Lei
11.738/2008
-
que regulamenta o piso salarial profissional nacional para os profissionais
do magistério público da educação básica - ainda não foi efetivada. Mesmo
aprovada quase por unanimidade no Congresso Nacional, a Lei do Piso teve
alguns de seus pontos fundamentais suspensos no Supremo Tribunal Federal.

Isso se deu graças a um questionamento promovido pelos governadores dos
estados do Ceará, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa
Catarina. Ainda assim, mesmo desconsiderando os pontos suspensos, muitas
redes municipais e estaduais ainda não implementaram a Lei do Piso.

Como uma resposta a esse equívoco, hoje, no Dia do Professor, um grupo de 27
organizações, do qual a Campanha Nacional pelo Direito à Educação participa,
composto por 25 entidades membros da Comissão Organizadora da Conae
(Conferência Nacional de Educação), somadas a 2 organismos internacionais
(Unesco e Unicef), entregarão a “Carta-compromisso pela garantia do direito
à educação de qualidade ” aos
presidenciáveis (saiba detalhes da entrega
). No âmbito da valorização
dos profissionais da educação o manifesto é incisivo, cobra de forma
veemente - entre outras ações -, a implementação da seguinte macro-política:

“Implementação de ações concretas para a valorização dos profissionais da
Educação: os futuros governantes e parlamentares, nos âmbitos federal,
estadual e distrital, em parceria com seus equivalentes municipais, devem
implementar de forma integral e imediata a Lei 11.738/2008
,
que determina o Piso Salarial Profissional Nacional para os Profissionais do
Magistério Público da Educação Básica. Complementarmente, até o ano de 2014,
os mesmos devem produzir leis e políticas públicas capazes de estabelecer
Planos de Carreira e Remuneração que tornem a educação uma área valorizada e
atrativa profissionalmente.”

Educação é uma política pública marcadamente sensível. Todos os países que
decidiram colocar a questão da valorização dos profissionais da educação no
centro de suas prioridades políticas e orçamentárias obtiveram ganhos
impressionantes e quase imediatos. A qualidade educacional oferecida aos
seus cidadãos melhorou de forma rápida e consistente e, com ela, os seus
índices de desenvolvimento social e econômico tiveram forte incremento.

O Estado brasileiro, caso deseje cumprir com seu papel constitucional - que
está em plena consonância com os anseios da sociedade - deve evitar os
falsos atalhos e investir no caminho certo: garantir que a carreira do
magistério seja bem remunerada e atrativa, motivando os professores que hoje
estão nas salas de aula pelo Brasil afora, mas também atraindo para as
escolas os melhores estudantes das melhores universidades.

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação
, composta por milhares de estudantes,
ex-alunos, professores, familiares e profissionais que atuam ou atuaram em
escolas públicas, mantém-se firme em seu compromisso de lutar pela justa
valorização da carreira do magistério. E vai além: crê que a chave para a
universalização do acesso à educação de qualidade no Brasil passa,
necessariamente, pela valorização não só dos professores, mas de todos os
profissionais da educação, considerando todos aqueles que atuam em
estabelecimentos públicos, como também aqueles que trabalham em unidades
escolares privadas.

Trabalhamos e trabalharemos todos os dias para que no futuro o “Dia do
Professor”, transformado em “Dia da Educação”, permaneça sendo um momento de
luta, mas que seja antes um dia de festa. Pois, no dia 15 de outubro de
2010, permanecemos lutando, perseverantemente. E assim permaneceremos.

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Daniel Cara
Coordenador Geral
Campanha Nacional pelo Direito à Educação