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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Educação em tempos bicudos

Apeoesp na Escola e na Luta é  um  coletivo  de  professores  de oposição aos setores que controlam o nosso sindicato. A escolha do nome do nosso coletivo não é por acaso. Ela revela uma  concepção de  militância sindical e educacional. Nosso coletivo está presente em mais de 20 subsedes em várias partes do Estado de São Paulo.

Publicamos abaixo nosso informativo do mês de maio.

As medidas de Serra e Maria Helena vêm ao arrepio da democracia e vão na contramão da qualidade da educação

Eles mantêm nossos salários congelados. Não há verbas, alegavam. Agora nos dizem que professores não ganham tão mal assim e que, portanto, não haverá aumento. Por fim, nos dizem ainda, os “melhores” serão premiados, “bonificados”, por avaliação de seu desempenho.

Como o orçamento doméstico insiste em desmentir que nosso salário seja um bom salário, então corremos a tomar mais aulas no início no ano, o quanto for possível. Como um bônus seria bastante proveitoso quando o salário míngua, então cumpre também que obedeçamos as diretrizes da Secretaria da Educação.

Tudo se passa como uma espécie de chantagem, que para ter efeito, carece que sejamos acuados, e acuam-nos. Fazem veicular que a responsabilidade pela má qualidade de ensino é nossa – e desmoralizam-nos com todo apoio da mídia: dizem que os professores somos mal formados e irresponsáveis, faltosos. E a mídia aplaude a chantagem e vocifera: “incompetentes!”

Entre a humilhação e a chantagem, cada qual vai incorporando para si mesmo a imagem que querem que façam de nós. Assumem como ofício uma certa mediocridade pedagógica e um pacto do menor esforço, como resposta ao pouco que nos pagam e às condições adversas de ensino encontradas em nossas escolas, que permanecem inalteradas. Outros consentem com os termos da campanha pública de desmoralização do magistério e deste modo é que reconhecem seus colegas de profissão.

Num caso como no outro, já não se reconhecem em seu trabalho como professores. A nossa identidade profissional foi extorquida, esmoreceu. Nestas circunstâncias foi que, desde o início do ano, os mais duros ataques se desferiram, aos quais ainda não soubemos resistir com força suficiente para impedir seus desdobramentos, que continuam a se desdobrar.

Trocando em miúdos, quando a Secretaria da Educação intervém na escola, com uma Proposta Curricular que define não só “o que ensinar”, mas também “como devemos ensinar”, roubam-nos aquilo que concretamente nos define enquanto professores, nossa identidade profissional, que forjamos por aquilo que pensamos e sabemos. Nossa experiência foi desprezada e, com ela, desprezada também nossa identidade. Apresentam “sugestões” para nossas aulas, desqualificando nossa experiência como algo ultrapassado e equivocado, e mais uma vez é nossa identidade profissional que é atingida e nos transformamos em meros executores de uma proposta que não é a nossa. E a Apeoesp, o que fez?

ASSALTO À LIBERDADE!

Os professores são pressionados (e ameaçados) para que apliquem a proposta curricular do governo, fazer com que ela dê certo, independente de concepções pedagógicas diversas àquela adotada pela Secretaria. Afinal, dirão eles, a proposta foi elaborada por especialistas que sabem o que dizem, como se qualquer coisa que temos a dizer fosse então bobagem de todo dispensável.

   Para além da imposição de sua “apostila”, as medidas vêm também atingir a autonomia da escola.

Para fazer a escola “funcionar” em acordo com a política implementada, adotou-se o discurso da empresa privada: É uma questão de liderança, do “protagonismo” do gestor, o Diretor de escola, centralizando ele as decisões e responsabilidades, e por  conseqüência, esvaziando as atribuições do Conselho de Escola.

Foi assim que a escolha dos professores coordenadores não passa por nenhuma discussão entre os professores, mas é de atribuição do Diretor e Supervisor.

O que as medidas da SEE induzem é a prática do mandonismo (“aqui quem manda sou eu!”). As decisões passam a se basear antes em avaliações de perfil, conforme o julgamento exclusivo do Diretor, como um arremedo de especialista em recursos humanos, alcunhado de “gestor”.

Se centralizam poder na figura dos diretores é para que executem, por quais meios forem, a proposta do governo. Ao esvaziar o Conselho de suas atribuições, é para que não haja espaço para o debate, nem para o dissenso. E a Apeoesp nada fez para reagir.

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